quinta-feira, 1 de julho de 2010

Polêmico, Lugano se especializa em salvar 'times amarelões'


Diego Alfredo Lugano Moreno parece predestinado ao sucesso em grandes desafios. Desconhecido em 2003, o filho famoso da cidade de Canelones (Uruguai) chegou ao São Paulo como o zagueiro indicado pelo presidente Marcelo Portugal Gouveia e viu seu nome alvo de piadas. Ninguém acreditava que o gringo aparentando total falta de juízo e uma cintura completamente dura pudesse arrumar a defesa que levava o torcedor ao desespero. Sete anos depois, ele não só deixa saudades no Morumbi - pelos títulos da Libertadores e do Mundial de 2005 - como chega ao auge em seu país: é o líder e capitão de uma equipe que resgatou a tradição uruguaia ao alcançar as quartas de final da Copa do Mundo.

"Em 32 anos que tenho de futebol, o Lugano é o sujeito que mais me deu exemplos de firmeza, cidadania, honra e busca de objetivos", empolga-se o atual superintendente de futebol do São Paulo, Marco Aurélio Cunha, um dos conselheiros do uruguaio até hoje. "Ele chegou a me pedir a opinião se deveria continuar no futebol turco em 2010", completa o dirigente, orgulhoso.

O goleiro Rogério Ceni, o grande ídolo do São Paulo nas últimas décadas, é outro que demonstra afeto ao lembrar da convivência por três anos com seu "professor" de espanhol. O camisa 1 usava o companheiro como cobaia na prática da língua. "Ele merece esse sucesso porque sempre foi muito profissional, dedicado e esforçado", exalta.

A Copa do Mundo de 2010 foi encarada por Lugano como uma obsessão, mesmo com todo o sufoco da classificação na repescagem e a desconfiança da torcida. Antes do início da primeira fase do torneio, o defensor se apegava à convicção de que o Uruguai podia enfrentar as grandes seleções do mundo sem medo. E deu certo. A Celeste superou a crítica de que seus talentos sumiam nas horas importantes. Agora, a bicampeã mundial pode comemorar o melhor resultado do país nos últimos 40 anos.

No São Paulo, Lugano foi um dos pilares do fim de uma geração apelidada de "bambi" pelos adversários e os próprios torcedores. No início da década passada, o são-paulinos eram a vítima preferida dos corintianos pelos sucessivos fracassos em finais. Ademais, outros rivais tiravam uma casquinha. Em 2002, o Palmeiras eternizou no Morumbi um gol de chapéu do meia Alex, ao passo que o ex-santista Diego dançou no símbolo tricolor. A partir do momento em que o xerifão uruguaio tomou conta da proteção a Rogério Ceni, com jogadas ríspidas e até violentas em alguns momentos, os "inimigos" perderam a vida mansa.

Embora limitado na parte técnica, Lugano é o tipo de jogador que leva o torcedor ao delírio. Nos triunfos mais suados, partia na direção das arquibancadas do Morumbi, mostrava o símbolo do São Paulo no uniforme e socava o peito com toda a força. Figura gentil fora dos campos e considerado modelo de beleza por muitas fãs, o uruguaio muda totalmente a sua expressão minutos antes de a bola rolar. Seu rosto passa por uma transformação no túnel de entrada do gramado. Os olhos arregalados viraram a marca registrada do zagueiro.

"Ele se concentra de uma maneira absoluta, nada tira o foco dele, daquilo que precisa ser feito, da determinação, é um sujeito de força espiritual grande", explica Marco Aurélio Cunha. "O Lugano nunca deixou a gente perder a concentração. Sempre foi um líder", emenda o lateral direito Cicinho, que retornou ao São Paulo em 2010.

Entre os adversários, Lugano carrega uma imagem totalmente distinta dos parceiros do São Paulo. É classificado de violento e desleal. O mexicano Bautista chegou a citar, após um confronto da Libertadores, que a maior "virtude" do uruguaio era cometer faltas para intimidar. Ainda assim, ele nunca tentou posar de bom moço. Marco Aurélio Cunha salienta o dom do zagueiro em administrar, na maioria das vezes, o momento certo de levar os seus cartões, já que demorou três anos para ser expulso pelo Tricolor - no jogo contra o Santo André, no início do Paulistão-2006.

"Todos sabemos que ele não é excepcional do ponto de vista técnico, mas, na final do Mundial de Clubes contra o Liverpool, o Lugano recebeu um amarelo por uma falta no Gerrard (durante o segundo tempo) porque sabia que poderia dar uma pancada com aquele árbitro. Ele tem uma inteligência emocional brilhante", elogia.

Curiosamente, os próprios ex-companheiros de São Paulo sentiam o peso das "bordoadas" do uruguaio nas atividades no CT da Barra Funda. "Ele chegava duro mesmo. Nos treinos, eu o mandava bater nos moleques da base e me esquecer", conta o ex-atacante Luizão, mais um campeão da Copa Libertadores da América de 2005.

"Mas é um cara gente boa, camarada. Ele é chato dentro de campo e uma pessoa maravilhosa fora. Eu o vejo como um zagueiro malandro desde os 23 ou 24 anos de idade. Hoje (aos 29), está melhor ainda, acho que alcançou a maturidade. Muito desse bom resultado do Uruguai na Copa do Mundo tem relação com o Lugano", prolonga o antigo artilheiro, que enfrentou diferentes tipos de defensores em sua carreira.

Confira o vídeo da última grande "confusão" de Lugano na Turquia:


Fonte: Gazeta Esportiva

0 comentários: