sábado, 3 de julho de 2010

"Anti-CBF", são-paulinos trocam Brasil por Lugano e vão à semi com o Uruguai

Os gritos efusivos, os xingamentos para o juiz, a expressão séria e os pés trêmulos entregues ao nervosismo davam todos os indícios de que a televisão transmitia um jogo do São Paulo ou da seleção brasileira. Mas era do Uruguai. No dia que o Brasil foi eliminado nas quartas de final da Copa do Mundo, ao invés de chorar, os são-paulinos comemoraram a classificação do ídolo Diego Lugano para as semifinais do Mundial.

Poucas horas antes, os comandados de Dunga levaram a virada da Holanda e deram adeus ao sonho do hexa. Mas os torcedores presentes no Copa Restaurante, no portão 5 do Morumbi, pareciam alheios à tristeza nacional em prol da Celeste. Depois de muito sofrimento, quando Loco Abreu mostrou personalidade ao cobrar pênalti com a famosa cavadinha, enfim, se abraçaram aliviados aos gritos de “U-RU-GUAI”. Agora, vão vingar o Brasil na terça-feira contra a Laranja Mecânica.

TRICOLORES SE REÚNEM PELO URUGUAI

  • Luiza Oliveira/UOL

    Luís Fernando Guiodi mostra o chimarrão e a garrafa térmica, símbolos do ídolo Lugano

  • Luiza Oliveira/UOL

    Torcedores do São Paulo se desesperam com gol de Gana contra o Uruguai no primeiro tempo

  • Luiza Oliveira/UOL

    Depois viria a redenção. Eles comemoram pênalti perdido por Gana nos acréscimos da prorrogação

A ligação com o vizinho sul-americano vem desde os anos 70 quando Pedro Rocha e Darío Pereyra defenderam o São Paulo e levantaram a taça do Brasileiro de 1977. Mais tarde, viria Diego Lugano, um dos principais ícones da geração vitoriosa de 2005 que conquistou a Libertadores e o Mundial. Para completar, uma das estrelas do time é Diego Forlán, filho do lateral Pablo Forlán. O atacante do Atlético de Madri já havia manifestado sua vontade de atuar pelo clube paulistano, onde jogou o pai em meados de 70.

Além dos ídolos, os torcedores encontraram mais motivos para apoiarem outro país. Carregam uma recente mágoa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pela briga política com a diretoria são-paulina. A entidade máxima do futebol brasileiro decretou recentemente que o Morumbi está fora dos planos para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

Especula-se que a decisão foi tomada em retaliação ao apoio a Fábio Koff para a presidência do Clube dos 13, cuja chapa era rival de Kleber Leite, apoiado por Ricardo Teixeira.

Mesmo com todos esses elementos, o amor dedicado ao Uruguai chega a impressionar. “É coração pulando, mãos suadas... estava quase tudo perdido, com a arma na cabeça, mas a arma falhou”, comemorou o jornalista Luis Fernando Guiodi, de 36 anos.

Para ele, o sentimento pelo Uruguai é bem mais forte que pela seleção brasileira. “Tenho ídolos no Uruguai e não me identifico com o Brasil, a não ser com o Luís Fabiano e com o Kaká. Não deu liga. O São Paulo também está em guerra com a CBF. Quando vejo descendo do ônibus Ricardo Teixeira e Andrés Sanchez fico desanimado.”

O mesmo sentimento tem o contador César Mendes, também de 36 anos. Apesar do esforço de Dunga, ele ainda vê a seleção bem distante do povo brasileiro e aponta os desentendimentos entre São Paulo e CBF como entraves. “Tem toda a história do Morumbi e o chefe da delegação é o Andrés Sanchez. Se ganhasse era capaz de dizer que seria o titulo do centenário do Corinthians”, afirmou.

“Já torci muito pelo Brasil, mas nas duas últimas Copas me afastei. Em 2006 fiquei mais feliz pelo Zidane, um dos maiores jogadores que vi em campo, diante daquele time de mascarados. Este ano a equipe até lutou mais, mas não tem ninguém jogando no Brasil. O Robinho está no Santos por acaso”, completou.

Mas antes de comemorar, os “tricolores uruguaios” passaram por muito sofrimento. Já no primeiro tempo, tiveram calafrios com o cabeceio de Vorsah e o chute de Gyan. Aos 38 minutos, a saída do capitão Lugano com dores no joelho gerou grande preocupação, mas eles se mantiveram confiantes. “Lugano não se machuca nunca. É o Chuck Norris”

“Quando acabar o primeiro tempo tem que dar uma organizada, está começando a ficar difícil”, alertou César, que parecia prever o gol de Gana já nos acréscimos. O segundo tempo só não foi mais sofrido porque Fórlan deixou tudo igual aos 10 minutos para delírio dos torcedores que derrubaram até cadeiras e um balde de cerveja, tamanha a empolgação.

Com a proximidade do fim do jogo, a tensão foi aumentando e na mesma proporção as reclamações contra a arbitragem. “Fifa e CBF são tudo a mesma coisa”, dizia um. A partida foi para prorrogação e o desejo geral era que acabasse logo nos pênaltis. Mas ainda estava para acontecer um lance capital.

Mesmo expulso, Suarez virou ídolo ao evitar com as mãos o gol certo de Gana debaixo da trave aos 15 minutos do segundo tempo da prorrogação. “Defendeu Suarez, ele fez aula com o Rogério Ceni”. Na cobrança do pênalti, foi o goleiro Muslera quem se transformou no maior ídolo tricolor da atualidade. “Vai Rogério”, gritou o torcedor com uma bandeira em homenagem ao camisa 1.

A decisão iria mesmo para os pênaltis. O erro de John Mensah na cobrança acendeu a esperança Celeste, que novamente precisou se conter com o erro de Maxi Pereira. Mas Muslera novamente apareceu no chute de Adiyiah. Na última cobrança, foi o botafoguense Loco Abreu, com a estilosa cavadinha, quem levou os tricolores aos gritos: “U-RU-GUAI”.


Fonte:UOL

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