Direto da França, o capitão do selecionado celeste, quarto colocado na Copa do Mundo da FIFA 2010 e campeão da Copa América 2011, conversou com o FIFA.com sobre o bom momento da seleção, sobre sua atual fase no PSG e fez uma revelação para deixar qualquer são-paulino esperançoso: "Um dia voltarei ao Brasil para jogar no São Paulo".

Confira a entrevista completa:

FIFA.com: O que significa para você fazer parte deste momento de tanto sucesso da Celeste?Diego Lugano: É um orgulho muito grande fazer parte deste processo, que está de acordo com o nível da cultura e da história do futebol do Uruguai. Recolocamos a seleção entre as melhores do futebol mundial, não só com títulos e boas atuações, mas impondo respeito. Agora todos jogam contra o Uruguai como se estivessem em uma final para ganhar prestígio. Isso nos deixa feliz e nos motiva para seguir por este caminho.

Vocês se consideram a melhor seleção da América do Sul?Independentemente do que sentimos ou deixamos de sentir, é o que os números indicam. Fomos os melhores na Copa do Mundo, ganhamos a Copa América e estamos em primeiro nas eliminatórias sul-americanas. Além disso, não é qualquer seleção que chega a 14 partidas sem derrotas. Por isso digo que hoje somos a equipe a ser batida na América do Sul, mas não deixamos o sucesso subir à cabeça. Este grupo trabalha todos os dias com humildade para manter-se, o que já é difícil, e para alcançar novas metas. Este ano, além das eliminatórias temos os Jogos Olímpicos, uma competição que o Uruguai conquistou por duas vezes, o que a torna muito especial.


As boas campanhas despertam expectativas, mas também geram obrigações. Classificar-se ao Brasil 2014 é uma delas?Conquistar uma vaga para a Copa do Mundo não é uma obrigação atual e sim histórica. A diferença é que hoje estamos num ótimo momento. Se tivemos dificuldades é porque as eliminatórias sul-americanas são as mais difíceis do mundo. E estas não serão diferentes, mesmo que tenhamos iniciado bem.


É difícil pensar nas duas próximas partidas da seleção faltando tanto tempo?Para nós não é difícil, pois são as mais importantes que temos pela frente. A Venezuela deixou de ser simplesmente uma equipe que pode tirar pontos, passou a ser um rival direto na briga pela vaga, e o mesmo ocorre com o Peru. Nas últimas três eliminatórias não conseguimos conquistar, em Montevidéu, os seis pontos contra essas duas seleções. Vencê-las nos deixaria muito bem colocados para a sequência da competição, mesmo que as outras seis partidas deste ano também sejam decisivas, pois o objetivo é a classificação direta.

Muitos pensam que, por ser o anfitrião, o Brasil será o grande favorito em 2014. Você, que já jogou e foi ídolo no futebol brasileiro, o que pensa a respeito?Pela grandeza que tem e pela necessidade de ganhar um título em casa, sem dúvida o Brasil deverá conviver com muita pressão e responsabilidade, o que é difícil de administrar. Eu gosto de ter esse tipo de pressão, pois nos direciona a grandes feitos. O Brasil já demonstrou no passado que sabe conduzir esse tipo de situação, mas é difícil apontar hoje se o grupo que vai à Copa do Mundo saberá lidar com isso. O que houve em 1950 não quer dizer nada.

Em relação a 1950, você acredita que o Uruguai pode repetir semelhante façanha?Espere, primeiro precisamos nos classificar (risos). Mas, se o Uruguai garantir vaga na Copa do Mundo e chegar lá no mesmo nível em que estamos hoje, seguramente será protagonista. Não sei se favorito, mas sem dúvida será muito respeitado.


A Copa do Mundo da FIFA 1950 fez com que Obdulio Varela, capitão daquela seleção, fosse praticamente imortalizado. Você se inspira nele?O futebol uruguaio tem mais de 100 anos de história e revelou grandes capitães, algo que se transmite de geração em geração. Herdamos essas coisas de jogadores mais recentes, como Enzo Francescoli, por exemplo, que deu tudo por esta camisa. Varela foi uma das maiores referências, e estou orgulhoso de ser o sucessor de todos os que já ostentaram a braçadeira de capitão e da responsabilidade que isso exige. O ideal é ser um capitão como os de antes, mas adaptado aos tempos modernos.


Vamos falar do seu atual momento na França. Você se imagina ídolo do Paris Saint-Germain como foi nos clubes anteriores?No ano passado aceitei a mudança como um desafio, como uma meta de que eu precisava. Queria começar do zero, me motivar outra vez, sentir a adrenalina e a pressão de jogar numa equipe diferente, num clube grande, que não ganha títulos há anos e precisa deles urgentemente. Vou dar o máximo e tomara que todos reconheçam isso. Tenho um grande compromisso com a causa.

Algo que nos causa estranheza é que você não parece fazer um grande esforço para jogar na Espanha, Inglaterra ou Itália...Não faço nenhum grande esforço. Joguei no São Paulo, o clube mais importante do Brasil. Atuei na Turquia, onde se vive o futebol com uma paixão incrível, e num clube como o Fenerbahçe, que mobiliza mais gente do que você pode imaginar. Agora estou no PSG, o maior clube da França, participando de um projeto muito ambicioso. Prefiro realmente desfrutar do lugar onde estou a sonhar com outra coisa.

Não pensa em voltar a atuar na América do Sul antes de parar de jogar?

Sim, um dia voltarei ao Brasil para jogar no São Paulo, que é a equipe que me projetou na carreira. Sou identificado com o clube, os torcedores pedem para eu voltar. Na Turquia também foi marcante, mas creio que a única chance de voltar à América do Sul é para o São Paulo.


Deixando o futebol um pouco de lado, o que é mais difícil: jogar uma Copa do Mundo, ser o único filho homem entre cinco irmãs ou ser pai?As três tarefas são dificílimas (risos). Ser pai é para toda a vida e envolve uma responsabilidade muito maior que jogar bem. É complicado, pois nós jogadores vivemos numa espécie de bolha. Os nossos filhos crescem nesta situação irreal e precisam saber que a maioria de nós precisou lutar para crescer. E não é fácil, pois ficamos longe de casa, às vezes em outro país, numa luta diária e complicada. Não se tem certeza de que vai dar certo, mas ainda assim se luta por esse objetivo.


Quando criança, deve ter sido difícil falar de futebol com tantas mulheres ao redor, não? Claro que ajudava ter um pai jogador...Falava-se pouco, e fala-se pouco agora também. É necessário ter os pés no chão, e esse é o papel da família. Com o meu pai sempre acabamos discutindo, pois ele nunca está satisfeito, nem comigo, nem com a minha equipe, nem com a seleção. É difícil dialogar com quem pertenceu a outra época, quem viveu outras coisas, mas sei que ele está orgulhoso de mim.


Para concluir, se o FIFA.com esfregasse a lâmpada mágica, o gênio aparecesse e você tivesse três desejos esportivos para 2012, o que pediria?O que mais me motiva é ir aos Jogos Olímpicos, por tudo o que a competição representa para o povo uruguaio. É difícil, porque só entram três jogadores acima da idade, mas desejo de coração. Depois, que os meus compatriotas sigam jogando bem nas suas equipes, pois isso é proveitoso para todos nós e deixa o futebol uruguaio em alto nível. E também gostaria muito de me firmar no PSG conquistando um título.

Fonte: FIFA.com